Notícias enchente no Rio Grande do Sul : 9 de maio
Conserto de casa de bombas que falhou e inundou centro de Porto Alegre patina desde 2018
Em 2 de maio, as 14 comportas do muro do cais foram lacradas. No dia seguinte, contudo, a água da cheia do Guaíba adentrava o Centro Histórico de Porto Alegre. Como, então, a enchente invadiu aquela região da cidade? A resposta está em uma foto da equipe de comunicação da prefeitura: da esquina das avenidas Mauá e Padre Tomé brotava uma inundação, vinda de uma das estações de bombeamento que deveriam, em cenário normal, proteger a cidade.
A Estação de Bombeamento de Águas Pluviais (EBAP) de número 17 falhou, pois a comporta no final desse mecanismo, que fecha quando as águas do Guaíba sobem a determinado nível, não cumpriu sua função.
De acordo com documentos oficiais acessados pela Matinal, desde 2018 a prefeitura já tinha conhecimento do problema na EBAP 17. Foi aberto, há seis anos, um procedimento interno que solicitava o conserto desse dispositivo e da comporta de outra estação de bombeamento a 1,4 quilômetro dali, de número 18, na esquina da avenida Mauá com a rua Carlos Chagas – casa de bombas que também deixou de funcionar na enchente deste ano. Outras falhas de drenagem foram determinantes para a inundação dos bairros Menino Deus, Praia de Belas e Cidade Baixa.
O Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) alega que só tomou conhecimento neste ano do pedido de conserto, estimado em 60 mil reais. A reportagem, porém, obteve fotografias que demonstram o mau funcionamento da EBAP 17 logo após a enchente de setembro de 2023, quando o Guaíba chegou a 3,46 metros.
Dmae deve concluir retirada da água da ETA Moinhos
Desde quarta-feira, equipes do Dmae trabalham para retomar as atividades da Estação de Tratamento de Água (ETA) Moinhos de Vento, que atende cerca de 150 mil pessoas. A retirada da água que inundou a estação de bombeamento do complexo, localizada na Avenida Voluntários da Pátria, deve ser concluída até sábado, informa o órgão. Depois disso, equipamentos elétricos passarão por secagem e substituições, para só então serem religados.
Em entrevista coletiva concedida ontem, Melo afirmou que a ETA deve voltar a funcionar, “na melhor das hipóteses”, entre segunda e terça-feira. Uma situação ainda mais grave é observada na ETA Ilhas, que precisará ser reconstruída – no momento, o abastecimento do bairro Arquipélago é feito com auxílio de caminhões pipa. As outras quatro estações de tratamento da cidade – Belém Novo, Menino Deus, São João e Tristeza – operam de forma mais lenta devido à turbidez da água e estão retomando gradualmente o abastecimento de suas redes.
Casa de bombas volta a funcionar e inundação reduz na Azenha
O alagamento nas ruas do entorno da Azenha diminuiu ontem. Com ajuda de geradores, foi religada a Estação de Bombeamento de Água Pluvial (Ebap) 14, localizada na Ipiranga. A capital tem 23 Ebaps, sendo que 19 delas foram desligadas em razão das inundações. No momento, seis estão em operação.
Melo admite desconhecer detalhes sobre mortes na capital
O prefeito Sebastião Melo (MDB) reconheceu não ter detalhes sobre as mortes reportadas pela Defesa Civil estadual em Porto Alegre em razão das enchentes. Até as 18h de quinta-feira (09/05), eram quatro óbitos. “Essa questão é estrita à Secretaria de Segurança. Nós mesmos não sabemos qual a região”, afirmou Melo. “Se tivesse toda a informação já daria, mas está restrita ao IML e à Secretaria de Segurança”, acrescentou.
À Matinal, a Defesa Civil informou que não disponibilizaria mais detalhes sobre as vítimas no momento. Dos quatro óbitos, apenas um já teve a identidade confirmada. Na Matinal, você lê mais sobre a coletiva do prefeito, em que foi anunciada a destruição da passarela de pedestres sobre a Rua da Conceição, próximo à rodoviária.
Sem coordenação da prefeitura, abrigos contam com voluntários para buscar doações
Milhares de pessoas afetadas pela enchente em Porto Alegre estão abrigadas em 124 espaços temporários, organizados pela prefeitura, voluntários e entidades privadas. A mobilização para obter doações é, contudo, liderada por voluntários e entidades locais, sem coordenação direta da prefeitura. A Sogipa, por exemplo, que abriga 450 vítimas, conta com associados e redes sociais para arrecadar mantimentos. A AMRIGS e o Conselho Regional de Medicina do RS distribuem donativos com auxílio voluntário.
Governo alerta para deslizamentos na serra e litoral norte e nova elevação do Guaíba
Com a previsão de mais chuva para os próximos dias, o governador Eduardo Leite (PSDB) fez um apelo para que a população gaúcha siga em alerta. A situação pode se agravar especialmente na serra e no litoral norte, onde ainda há risco de deslizamentos. Em coletiva na tarde de hoje, Leite informou que há mais 165 mil pessoas desalojadas no Rio Grande do Sul devido às enchentes dos últimos dias.
O RS contabiliza ainda 107 mortos, 134 desaparecidos e 431 municípios afetados. Até o momento, 70 mil pessoas já foram resgatadas pelo poder público e voluntários, e mais de 68 mil sobreviventes estão em abrigos. As regiões mais impactadas com as novas precipitações serão a serra, região metropolitana de Porto Alegre e litoral norte. No sábado e domingo, deve haver impacto nos rios Taquari, Caí e Sinos. Na sequência, os efeitos das chuvas chegam nos rios da região de Maquiné, Três Forquilhas e, depois, no Jacuí e Guaíba – que deve voltar a superar a marca de 5m, após ter chegado a 4,74m hoje pela manhã.
Pelotas ordena evacuação dos bairros Valverde e Santo Antônio; Água avança em Rio Grande
A situação da região sul do estado também preocupa devido à elevação do nível da Lagoa dos Patos. Às 22h08 de ontem, a prefeitura de Pelotas determinou que os moradores dos bairros Valverde e Santo Antônio buscassem abrigo em local seguro. Em Rio Grande, o avanço foi mais severo ontem do que na véspera. Por volta das 16h, a lagoa já tinha chegado na região do Mercado Público.
Haddad anuncia pacote de 50,9 bilhões de reais para o RS; Eduardo Leite que flexibilizou as regras ambientais no Estado estima 19 bi para reconstrução
Números na casa das dezenas de bilhões de reais começam a ser estimados e anunciados pelos governos estadual e federal para a reconstrução do RS. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, informou um conjunto de 12 medidas que totalizam 50,9 bilhões de reais para o estado – aproximadamente 40 bi em financiamentos, 10 bi em antecipações de benefícios e adiamentos de pagamento de impostos e 1 bi destinado a fundos municipais e parcelas extras do seguro-desemprego.
Os recursos, que serão encaminhados ao Congresso, devem beneficiar empresas, produtores rurais, mais de 700 mil trabalhadores com carteira assinada, 140 mil trabalhadores formais desempregados e 583 mil famílias que recebem auxílios. “Isso não tem nada a ver com os planos de ação de cada ministério e nem o que será anunciado na semana que vem sobre a dívida do estado, que vai permitir que o próprio estado faça as obras de recuperação”, afirmou Haddad. O governador Eduardo Leite projeta que serão necessários, pelo menos, 19 bilhões de reais para reconstruir o Rio Grande do Sul.
Enchente e saúde pública
Casos de leptospirose devem aumentar a partir da próxima semana – O Rio Grande do Sul enfrentará a partir da próxima semana uma maior incidência de casos de leptospirose. Ainda que já tenha havido uma corrida às farmácias da região metropolitana nos primeiros dias de inundação, os casos devem eclodir nos próximos dias. A chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica do Centro de Vigilância em Saúde do RS, Roberta Vanacôr advertiu que a doença deve incidir não apenas nas vítimas, mas também nas equipes de resgate voluntárias. O órgão também prevê um possível aumento em casos de hepatite A, tétano e gripe – por isso, a prefeitura liberou a vacina da gripe para toda a população. Leia a matéria completa na Matinal.
Atraso na remoção de pacientes do HPS de Canoas agravou a crise
No sábado, dia 4, o Hospital Pronto Socorro de Canoas teve de ser evacuado às pressas, enquanto a água subia rapidamente. Dois pacientes que estavam internados na UTI morreram. No dia, a prefeitura afirmou que as mortes não estavam relacionadas à enchente, o que contradiz um relato recente divulgado pelo ICL Notícias. Segundo um profissional de saúde do hospital que estava de plantão, alertas emitidos para a instituição foram ignorados – a direção do HPS informou por volta das 5h da manhã que a transferência dos pacientes ainda não tinha sido autorizada. “Só uma hora depois disso, os pacientes da UTI do segundo andar foram trazidos à sala vermelha com o intuito de serem transferidos aos hospitais mais próximos. Esse resgate, porém, nunca chegou, mas a água sim”, conta.
Ao longo do dia, a situação no hospital de Canoas só piorou: os pacientes que tinham sido levados para a sala vermelha para serem salvos tornaram-se os mais expostos. Devido à correria para levá-los para o segundo andar, dois deles, em estado grave, acabaram ficando. Ao ICL Notícias, o prefeito de Canoas, Jairo Jorge (PSD-RS), disse que não se arrepende de ter interrompido o planejamento para a transferência dos pacientes, na sexta-feira, dia 3 – como justificativa, estava a premissa de que uma remoção apressada poderia causar ainda mais transtornos.
Giro de Notícias
O MP-RS vai investigar casos de decretos de calamidade pública emitidos por municípios que não foram afetados pelas enchentes. Na quarta, Imbé, no litoral norte, fez uso desse tipo de decreto – a justificativa era de que o município precisava de recursos para acolher pessoas que migraram para a região.
A luz voltou em parte do Centro Histórico. Em toda área da CEEE Equatorial, 185 mil clientes seguem sem energia.
A prefeitura de Porto Alegre anunciou ontem a criação de um abrigo emergencial especificamente para mulheres e crianças, que será instalado no Foro Regional do Partenon. Seis pessoas já foram presas após denúncias de abusos em abrigos.
Após críticas nas redes sociais, Melnick e Panvel informam ações de apoio às vítimas das enchentes. Comunidade escolar do IPA questiona participação da construtora em abrigo no ginásio da instituição.
Aliás, estudantes da UFRGS fizeram um levantamento sobre o que as 50 maiores empresas do país estão fazendo (ou não) para enfrentar as enchentes.
O destino da verba arrecadada pelo pix oficial do governo do estado, que também foi alvo de críticas, agora começa a ter seu destino definido por um comitê gestor. Veja na reportagem da Matinal.
Quem também foi criticado e voltou atrás foi o prefeito de Imbé, Ique Vedovato (MDB), que revogou o decreto de calamidade pública. A medida havia sido publicada apesar de a cidade não estar entre as afetadas pelas enchentes.
As enchentes devastaram lavouras de arroz orgânico do MST. Conforme a Repórter Brasil, mais da metade da produção agroecológica do grão encontra-se na região metropolitana de Porto Alegre, em assentamentos que foram inundados. Leia na íntegra.
Nesta semana, seis escolas da rede municipal passaram a servir almoço aos alunos matriculados regularmente. Outras quatro acolhem moradores de áreas atingidas.
Familiares de detentos tiveram que se arriscar para levar mantimentos no presídio de Montenegro. As inundações que atingiram o RS deixaram unidades prisionais ilhadas e com problemas de abastecimento de água.
O Hemocentro do RS, em Porto Alegre, informou que até o dia 15 de maio vai atender somente doadores de sangue previamente agendados – no momento, o sistema para novos agendamentos encontra-se fora do ar.
O DMLU, em parceria com o Dnit, implantou uma via alternativa pela BR-116 para o encaminhamento do lixo recolhido na capital, até o aterro sanitário de Minas do Leão.
A entrega de passaportes será retomada na capital, nesta sexta-feira, no prédio da Superintendência Regional da Polícia Federal. A emissão de novos documentos continua suspensa.
Em virtude da situação de calamidade pública no RS, a Justiça Eleitoral suspendeu a coleta de biometria no estado. O serviço de autoatendimento eleitoral e o prazo para a emissão de título ou alterações cadastrais seguem até 23 de maio.
Olimpíadas de Paris 2024 ficou em segundo plano
Diante dos desafios enfrentados pelo RS, o torneio que dá acesso às Olimpíadas de Paris 2024 ficou em segundo plano para os atletas da seleção brasileira de Remo: Alef Fontoura, do Pinheiros, Evaldo Becker, do Flamengo, e Daniel Lima, do Grêmio Náutico União, optaram por auxiliar no socorro às vítimas das enchentes que atingiram o estado, deixando para trás o Pré-Olímpico, marcado para os dias 19 e 21 de maio.
O trio está trabalhando como voluntário na sede do Grêmio Náutico União, no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre. “Optamos por não ir para o Pré-Olímpico com nossas famílias e amigos em meio desse caos”, afirmou Evaldo. Em vídeo recente publicado pelo Time Brasil, os atletas mostraram a situação em meio às águas que tomaram o bairro Sarandi, um dos mais afetados na capital.
Giro de Notícias
RS registra quase 10 mil salvamentos e pelo menos 55 mortes
Resgatados das Ilhas chegam ao Centro pela orla do Gasômetro | Foto: Alex Rocha/PMPA
Botes cheios de pessoas aportando próximo ao Gasômetro, filas de pessoas caminhando com água pelo joelho e seus pertences sobre os ombros, centenas buscando abrigos. O pânico seguiu o curso das águas: depois da situação crítica vivida na metade norte do estado, os esforços de resgates se concentraram na capital e seu entorno, região onde os leitos dos rios Jacuí, Sinos, Gravataí e Guaíba foram acumulando ao longo da madrugada, a ponto de o Guaíba superar, ainda na noite de sexta-feira, a marca histórica da enchente de 1941.
Passado o pior no Vale do Taquari, o foco das autoridades de resgate é a região metropolitana da capital, informou o ministro Paulo Pimenta à rádio Gaúcha. Segundo ele, o salvamento está praticamente concluído naquela região. Quase 20 mil pessoas já foram salvas em todo o estado, que infelizmente contabiliza cada vez mais mortos.
Mais de 82 mil pessoas estão fora de casa, sendo 13,3 mil em abrigos e 69,2 mil desalojadas, que recebem abrigo nas casas de familiares ou amigos. Ao todo, 317 dos 496 municípios do estado registraram algum tipo de problema, afetando 510,5 mil pessoas.
Canoas evacua hospital e tem mais de 7,5 mil fora de casa
Em Canoas, mais de 7,5 mil estavam abrigados no início da noite. Com mais de 50 mil pessoas em áreas de risco, a prefeitura orientou a evacuação de 11 bairros do lado oeste da cidade e que buscassem abrigos em locais mais altos. Com ajuda de voluntários, o poder público realizou resgates com embarcações. Aeronaves do governo estadual e das Forças Armadas auxiliaram na busca de pessoas que ficaram presas nos telhados das residências.
As enchentes levaram também à evacuação do Hospital de Pronto Socorro da cidade durante a tarde. A prefeitura montou uma central de recebimento de doações, na loja Cassol Centerlar, localizada na avenida Farroupilha, 5775, no bairro Mal. Rondon. Pedidos de resgate em Canoas devem ser feitos pelo telefone (51) 9 8255-0947.
Outras cidades
Assim como em Canoas, centenas tiveram de deixar suas casas em Eldorado, município de 38 mil habitantes que foi praticamente todo inundado pelo Rio Jacuí, na região do delta. Supermercados, postos de gasolina, casas e empresas estão alagadas. Moradores foram encaminhados para Guaíba, onde cerca de 2,5 mil foram acolhidos.
Com estimativa de 100 mil pessoas afetadas, São Leopoldo decretou situação de calamidade pública. A elevação do Rio dos Sinos, com rompimento em trecho de um dique, alagou bairros inteiros. Cerca de 4 mil pessoas foram acolhidas em pontos disponibilizados pelo município; mais de 800 foram recebidos na Unisinos, que reforça a necessidade de doações de colchões e comida.
Ajudar as pessoas a se organizarem na busca por informação confiável e relevante é um dos propósitos da Matinal. Criamos um serviço importante: reunimos em uma lista no X, antigo Twitter, os perfis que divulgam informações fundamentais para enfrentarmos essa crise.
Em todo o estado, aproximadamente 350 mil clientes sob responsabilidade das empresas RGE e CEEE Equatorial continuam sem luz.
Estima-se também que mais de 860 mil imóveis estavam sem abastecimento de água tratada no RS, até o fechamento desta edição.
Em um momento em que as informações para enfrentar as enchentes são fundamentais, a RBS TV saiu do ar em cerca de 12 municípios gaúchos.
O Grupo Record RS também passou por percalços: durante a semana, equipes da rádio Guaíba tiveram de ser evacuadas de prédio no Centro Histórico. Já o Correio do Povo teve a impressão do jornal suspensa com o alagamento do maquinário.