Inter faz análise do setor agropecuário brasileiro em 2021

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Inter faz análise do setor agropecuário brasileiro em 2021

Apesar de recuo no 2T21, o desempenho do setor agropecuário segue forte em 12 meses, o que se reflete no mercado de trabalho mais aquecido em relação ao restante da economia.

O bom desempenho da balança comercial está associado à soja e às proteínas, enquanto o crescimento das compras de milho se destaca nas importações.

No segmento agrícola, a produção é robusta principalmente para soja, trigo e arroz, que se beneficiaram do aumento da produtividade nas lavouras. Por outro lado, as adversidades climáticas prejudicaram o desempenho de outras culturas, enquanto a demanda forte e o câmbio depreciado proporcionam preços elevados para diversas commodities.

Na pecuária, o setor conta com demanda externa aquecida, porém com custos elevados e oferta reduzida, o que propicia preços elevados, principalmente para carne bovina.

Empregos no Setor Agropecuário em 2021

No mercado de trabalho, o agronegócio fechou o primeiro semestre empregando cerca de 9 milhões de indivíduos (10% da população economicamente ativa), alta de 7% em relação ao período anterior à pandemia, enquanto o emprego em outros segmentos da economia segue defasado.

PIB no Setor Agropecuário em 2021

O PIB do setor agropecuário apresenta desempenho relativamente robusto desde o início da pandemia, embora tenha recuado 2,8% no segundo trimestre de 2021. A queda decorreu principalmente da redução da produção de milho na segunda safra, devido ao atraso no plantio da soja e pelas condições climáticas adversas. Por outro lado, as safras de soja e trigo apresentaram novos recordes, contribuindo positivamente para o setor.

A atividade no setor deve ser estimulada pelos preços historicamente elevados, embora o desempenho da safra de
grãos possa limitada pela estiagem e pelas geadas observadas ao longo do terceiro trimestre.

Exportações do Setor Agropecuário em 2021

Na balança comercial, as exportações de produtos agropecuários tiveram bom desempenho no acumulado até agosto. As exportações de soja totalizaram US$ 31,9 bilhões no período, ante US$ 25,5 bilhões nos mesmos meses de 2020, com o aumento de cerca de 27% no preço médio em dólares. Outro item com crescimento relevante foi a carne suína, cujas vendas se elevaram em cerca de 21% em termos interanuais. Essa alta, por sua vez, é devida principalmente à elevação das exportações com destino à China, cujos rebanhos foram afetados pela peste suína africana. Por fim, o desempenho mais fraco da safra de milho impacta também a balança comercial, que mostra queda de 9% das exportações na comparação interanual (apesar da elevação do preço médio), levando o consumo doméstico a ser suprido pela alta de cerca de 190% nas importações no período.

Soja

Com a colheita já concluída, a safra de soja atingiu novo recorde de produção de 133,8 milhões de toneladas, cerca de
10,1% acima do observado para a safra de 2020. A alta, por sua vez, decorre tanto de um aumento de 4,7% da área colhida quanto de 5,1% no rendimento médio, com a cultura se desenvolvendo de forma satisfatória, apesar do atraso do plantio e problemas climáticos. O preço da soja teve alta desde meados de junho, em função da depreciação do câmbio e de dados de estoque e área plantada abaixo do esperado nos Estados Unidos, mas mostra estabilidade desde o início do ano. Os custos de produção, no entanto, tiveram elevação desde janeiro, o que compromete a lucratividade no ciclo 2021/2022, cujo plantio se inicia nesse mês.

Milho

Prejudicado pelo período de geadas, assim como pela escassez de chuvas, o preço da saca do milho continua elevado, com média de R$ 93,36 em 2021. A produção teve queda expressiva em relação à safra passada, devido à diminuição da produtividade em 16% . Além disso, a elevada demanda do mercado externo e interno pressiona os estoques mundiais, com uma queda prevista de 8,3% em comparação à safra anterior, segundo estudos da USDA. A Cepea ressalta a possibilidade de mais oscilações dos preços internacionais nesse semestre, acentuadas pelo risco climático das próximas safras. Por outro lado, a ampliação da demanda interna pelo bem causou um aumento das importações e redução das exportações em relação ao ano anterior.

Trigo

A produção doméstica de trigo deve atingir recorde de 8,2 milhões de toneladas em 2021. O forte avanço em relação à temporada anterior está associado a um crescimento robusto tanto da área colhida quanto do rendimento médio, apesar das geadas que atingiram algumas lavouras em julho. Esse aumento também deve impactar em uma queda da
importação do produto nos próximos meses, que constitui o maior item agropecuário da pauta importadora
brasileira. O preço da tonelada segue em forte ritmo de alta desde o início do ano, e foi acompanhado por elevação também significativa nos custos de produção.

Algodão

Após recorde na colheita de 2020, a produção de algodão em 2021 deve apresentar queda de 17% na comparação
interanual. Essa retração decorre da redução de cerca de 16% da área destinada ao plantio, em virtude da destinação de terras para culturas mais rentáveis, como soja e milho, enquanto a produtividade se manteve estável. Ao longo de 2021, a combinação entre a desvalorização cambial e a aceleração da produção no setor de vestuário permitiu que o preço do algodão se aproximasse do recorde da série histórica. Com isso, esperamos que haja um aumento da área
plantada para a safra do próximo ano, com correspondente aumento da produção e atenuação dos preços.

Café

Motivado pela quebra da safra no 2T21, os preços do café arábica aumentaram em cerca de 90% na comparação interanual, atingindo o valor recorde de R$1.102,4/60 kg em agosto. Além dos efeitos das geadas no Paraná, São Paulo e Minas Gerais, as expectativas de quebras de safra na América Central, em adição às dificuldades logísticas da Colômbia, tendem a ampliar o preço e aumentar a volatilidade do setor. Devido à bienalidade negativa das lavouras de café, a produção esperada já estava abaixo da safra anterior, segundo estimativas da Conab. No entanto, o cenário desfavorável intensificou a redução da produtividade e a colheita deste ano.

Açúcar

A safra atual de cana-de-açúcar deve ter produção no ano abaixo da anterior. Esse fato decorre tanto da redução da área plantada quanto da queda de 1,9% no rendimento médio. Essa queda de produtividade reflete o fato da cultura ser uma das mais atingidas pelas condições de oferta adversas dos últimos meses, como estiagens, geadas e queimadas provocadas pelo clima seco. Em consequência, e somado ao aumento das exportações, o preço da saca de açúcar acelerou em agosto e atingiu patamar recorde em diversas regiões do país, enquanto o custo do etanol também acelera e leva a repasses aos preços de combustíveis.

Arroz

A produção de arroz deve finalizar o ano próxima de 11,5 milhões de toneladas, segundo o IBGE, cerca de 4,3% acima do ano anterior. Essa aceleração resulta da combinação entre uma queda marginal da área plantada e avanço de 4,5% no rendimento médio, que refletiu condições favoráveis nas regiões produtoras. O aumento da produção, aliado da redução das exportações, permitiu uma recomposição dos estoques domésticos e queda do preço da saca de 50 quilos para cerca de R$ 75, ante patamar acima de R$ 100 no final do último ano. Ao custos médios de produção aceleraram para R$ 65 por saca na leitura mais recente, comprometendo a margem dos produtores em diversas regiões do país.

Batata

A produção total de batata em 2021 deve atingir 3,9 milhões de toneladas, com crescimento de 5,1% em relação ao
observado no ano anterior. Esse crescimento está associado ao ganho de 9,4% em termos de produtividade, parcialmente compensado pela queda de 2,5% na área plantada. Após queda sustentada no primeiro semestre, o preço da batata voltou a subir em meados de julho, refletindo as geadas ocorridas no período, que prejudicaram principalmente as lavouras de meio de ciclo.

Laranja

Fruta mais produzida no Brasil, a produção de laranja deve recuar pelo segundo ano consecutivo, atingindo 14,6 milhões de toneladas em 2021. Apesar do aumento marginal da área plantada, a produtividade dos pomares recuou em 7%, refletindo o impacto da estiagem e das geadas, que prejudicou. Esse ponto, em conjunto da forte demanda industrial, permitiu o avanço do preço do produto a partir da metade desse ano, atingindo cerca de R$ 43,4 por caixa de 40,8 quilos. A expectativa é que o preço se mantenha elevado à frente, na medida em que produtores optaram por antecipar as colheitas em resposta às geadas, restringindo a oferta nos próximos meses.

Banana

A produção de banana deve atingir 7,0 milhões de toneladas em 2021, refletindo crescimento interanual tanto da área
plantada quanto da produtividade. Já no preço da caixa de 22 quilos, foi observada uma reversão da tendência na passagem do primeiro para o segundo semestre. Enquanto a primeira metade do ano esteve associada à redução da demanda institucional (com o avanço da pandemia e o recuo da mobilidade), após junho as plantações foram prejudicadas pelas geadas, havendo relatos de chilling (escurecimento de casca) em algumas regiões, o que limitou a oferta de qualidade e contribuiu para o aumento dos preços atuais

Boi Gordo

O preço do boi gordo se manteve acima de R$ 300 por arroba em 2021. As oscilações no valor interferem diretamente no consumo do mercado interno, o que causa uma substituição das preferências por proteínas alternativas, como frango e ovos. No entanto, com a demanda aquecida e desvalorização do real, a demanda externa por produtos brasileiros continua alta. Na esfera de produção, o Brasil passa por um ciclo negativo do gado, com baixa oferta devido às retenções em 2019 e 2020. Além disso, as questões climáticas dificultam a criação e elevam os custos para o setor, o que fez o preço do arroba continuar elevado em 2021. Em contrapartida, o cenário de exportações continua positivo para o Brasil, tendo em vista a recuperação da atividade econômica dos Estados Unidos e China, bem como a baixa produtividade da Austrália na oferta de proteínas.

Suíno

No 2T21, o número de abate de suínos atingiu um novo recorde desde 1997, com uma acréscimo interanual de 10,5%.
Contudo, a redução da demanda do mercado interno por carne suína e o aumento dos custos em razão do encarecimento do milho, ocasionou oscilações no preço, com uma variação de R$ 6 a R$ 8 no ano. No âmbito das
exportações, a procura por produtos brasileiros continua elevada, sobretudo por conta da desvalorização do real e da
forte demanda da China. Por fim, segundo as perspectivas da Cepea, é esperado que o segundo semestre seja similar ao primeiro, porém com riscos de aumento dos custos da ração, devido ao valor do milho, assim como possibilidades de uma redução temporária das exportações de suínos pela China, tendo em vista a reação dos locais diante da nova variante da peste suína africana.

Frango

Em detrimento da elevada demanda do mercado interno e externo, juntamente com a alta produtividade das aviculturas, a produção do 2T21 evoluiu 11,6% em termos interanuais. No entanto, em razão da alta dos preços do milho e farelo de soja, que representam cerca de 90% da alimentação das aves, ocorreu um aumento dos custos de produção. Além disso, a demanda aquecida pela carne de frango, por conta do encarecimento das proteínas substitutas, principalmente a bovina, ocasionou o atingimento de preços recordes em setembro. Com a demanda aquecida, é esperado que os preços se mantenham em alta no segundo semestre.

Leite

A redução da oferta de leite no período sazonal e o aumento da demanda das indústrias levou o preço do leite a R$ 2,4 por litro em agosto. Além disso, no 1T21 houve uma redução do consumo doméstico, o que ocasionou uma inclinação dos pecuaristas pelo mercado de corte ou para deixarem o setor, o que consequente proporcionou a elevação do preço para o segundo semestre. A elevação dos custos e barreiras climáticas intensificaram a redução da oferta de leite no período, o que elevou o valor do produto. Por fim, após período sazonal de baixa produção e o início da primavera com mais chuvas, é esperado que o preço do leite se reduza ou mostre alguma estabilização.

Ovo

Com a queda na demanda doméstica no 1T21, o aumento do preço do ovo representa o acúmulo dos custos
produtivos, assim como a captação das perdas pelas adversidades climáticas. Em vista disso, as perspectivas do Cepea para o segundo semestre apresentam um possível aumento dos preços, em razão de uma maior preferência dos consumidores por proteínas mais baratas e de uma recuperação generalizada na demanda.