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Operação Contenção : aumento no número de mortos desqualifica a ação policial

Operação Contenção : aumento no número de mortos desqualifica a ação policial Operação Contenção : aumento no número de mortos desqualifica a ação policial

Operação Contenção : aumento no número de mortos desqualifica a ação policial

Operação Contenção

  • Ativistas denunciam “massacre” em ação policial após moradores retirarem 70 corpos de áreas de mata
  • Únicas vítimas da Operação Contenção são policiais mortos, diz governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro
  • Professora do Departamento de Segurança Pública da Universidade Federal Fluminense (UFF), Jacqueline Muniz, diz que operação foi amadora e uma “lambança político-operacional”
  • Federação das Associações de Favelas do Rio de Janeiro (Faferj) divulgou na quarta-feira (29/10) uma carta pública de repúdio contra o que foi chamado de “massacre dos Complexos da Penha e do Alemão”.
  • Presidente da organização não governamental Rio de Paz, Antônio Carlos Costa pediu responsabilização do governador do estado, Cláudio Castro, pela tragédia

Ativistas denunciam “massacre” em ação policial

Na terça-feira (28), dia da operação, 64 mortos foram confirmados, incluindo quatro policiais. No entanto, pelo menos outros 70 corpos foram retirados por moradores de áreas de mata. Seis foram localizados no Complexo do Alemão e deixados no Hospital Estadual Getúlio Vargas durante a noite, e outros 64 foram encontrados no Complexo da Penha e reunidos na Praça São Lucas, na Penha, zona norte do Rio de Janeiro, de onde foram recolhidos posteriormente pelo Corpo de Bombeiros.

Operação Contenção : aumento no número de mortos desqualifica a ação policial
Operação Contenção : aumento no número de mortos desqualifica a ação policial

MPRJ acompanha desdobramentos da Operação Contenção nos complexos do Alemão e da Penha
Dezenas de corpos são levados por moradores para a Praça São Lucas, na Penha, zona norte do Rio de Janeiro.

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) está acompanhando os desdobramentos da operação Contenção realizada na terça-feira (28/10) nos complexos do Alemão e da Penha, zona norte da capital fluminense. A instituição atua por meio do Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (GAESP/MPRJ) e de seu Plantão de Monitoramento, para assegurar o cumprimento das diretrizes fixadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na ADPF 635, que disciplina operações policiais em comunidades do Estado. A informação foi divulgada pelo MPRJ na quarta-feira (29/10).

ADPF significa Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental e é um instrumento de controle de constitucionalidade utilizado para garantir que atos do poder público não violem princípios essenciais da Constituição Federal. Ela serve para proteger direitos e valores fundamentais quando não há outro recurso legal cabível.

O procurador-geral de Justiça, Antonio José Campos Moreira, se encontra em contato permanente com as equipes e monitora continuamente a situação.

Técnicos periciais foram enviados ao Instituto Médico-Legal (IML) para a realização de perícia independente, seguindo atribuições legais. As informações referentes aos desdobramentos da operação foram encaminhadas pelo Plantão de Monitoramento para a análise da 5ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada do Núcleo Rio de Janeiro.

Únicas vítimas da Operação Contenção são policiais mortos, diz governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, disse na quarta-feira (29/10) que a Operação Contenção foi um sucesso e que as únicas vítimas dos confrontos foram os policiais mortos.

“Temos muita tranquilidade de defender o que foi feito ontem. Queria me solidarizar com as famílias dos quatro guerreiros que deram a vida para libertar a população. Eles foram as verdadeiras quatro vítimas. De vítima ontem, só tivemos os policiais”, disse Castro em entrevista no Palácio Guanabara, sede do Executivo estadual.

“Quais são os indícios que levam a crer que todos eram criminosos? O conflito não foi em área edificada. Foi todo na mata. Não creio que tivesse alguém passeando na mata num dia de conflito. Por isso a gente pode tranquilamente classificar de criminosos”, acrescentou o governador.

Número de mortos

Cláudio Castro disse ainda que o número oficial de mortos na operação das polícias Civil e Militar nos complexos da Penha e do Alemão na terça-feira (28) é de 58 mortos, incluindo os dois policiais civis e os dois policiais militares. Ele não explicou o motivo da mudança da contagem oficial, mas disse que o dado oficial vai mudar “com certeza”.

Na terça-feira (28/10), o governo falou em 64 pessoas mortas, inclusive os quatro agentes das forças de segurança. O governador também não quis comentar sobre os cerca de 60 corpos retirados da área de mata pelos moradores do Complexo da Penha após a operação mais letal da história do estado.

O governador destacou que o estado do Rio é o epicentro do problema da segurança pública que “assola o Brasil”.

“Mostramos ontem um duro golpe na criminalidade e que temos condições de vencer batalhas. Mas temos a humildade de reconhecer que essa guerra não será vencida sozinhos. Agora é momento de união e não de politicagem”.

Moradores do Rio de Janeiro viveram momentos de medo nessa terça-feira (28) diante da operação policial. Milhares de pessoas enfrentaram dificuldades para conseguir chegar em casa devido aos bloqueios das vias da cidade, além de terem de fugir dos tiroteios.

Especialista diz que ação foi amadora

Especialistas ouvidos pela Agência Brasil criticaram a ação que gerou grande impacto na capital fluminense e não atingiu o objetivo de conter o crime organizado.

Para a professora do Departamento de Segurança Pública da Universidade Federal Fluminense (UFF) Jacqueline Muniz, a operação foi amadora e uma “lambança político-operacional”. Movimentos populares e de favelas também criticaram as ações policiais e afirmaram que “segurança não se faz com sangue”.

Ativistas denunciam “massacre” em ação policial

Ativistas que acompanharam a retirada de mais de 60 corpos de uma área de mata no Complexo do Penha, um dia após a maior operação policial realizada no Rio de Janeiro nos últimos 15 anos, classificam o evento como uma “chacina” e um “massacre” promovidos por forças de segurança.

O empreendedor Raull Santiago, nascido no Morro do Alemão, foi um dos primeiros a noticiar o encontro dos corpos. Ele usou transmissões ao vivo pelas suas redes sociais.

“Essa é a face da cidade maravilhosa, que é capital na América Latina quando a gente pensa em turismo. E eu amo a minha cidade, o meu estado, a minha favela, mas há esses momentos em que a desigualdade grita, o poder direciona o seu ódio e traz na prática mais brutal possível o seu recado para quem vive em comunidades como a nossa”, lamentou.

Operação Contenção : aumento no número de mortos desqualifica a ação policial
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Contagem

“Infelizmente, pela minha realidade, eu já estou acostumado a ver corpos, baleados, estraçalhados. Mas, [com] isso aqui, eu nunca vou me acostumar”, disse Raull Santiago sobre o choro das mães diante dos corpos de seus filhos.

Na terça-feira (28), dia da operação, 64 mortos foram confirmados, incluindo quatro policiais. No entanto, pelo menos outros 70 corpos foram retirados por moradores de áreas de mata. Seis foram localizados no Complexo do Alemão e deixados no Hospital Estadual Getúlio Vargas durante a noite, e outros 64 foram encontrados no Complexo da Penha e reunidos em uma praça da comunidade, de onde foram recolhidos posteriormente pelo Corpo de Bombeiros.

Se não houver duplicidade nos números e se todos os corpos encontrados realmente tiverem sido vítimas da operação, o número de mortos pode passar de 130.

“Tanto essas execuções, quanto os policiais que morreram, tudo isso [são] marcos históricos que gritam a ineficiência da política de segurança pública do Rio de Janeiro. Ou, pior que isso, a eficiência dela, a forma como ela é desenhada, estruturada, pensada e aplicada para lidar com algumas vidas”, afirmou Santiago.

“Da favela para dentro, tiro, porrada, bomba, invasão, desrespeito, chacina, massacre. Em outros endereços, o tratamento é quase vip”, criticou.

Responsabilização de Cláudio Castro

O presidente da organização não governamental Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, também acompanhou a retirada dos corpos na manhã de quarta-feira e pediu responsabilização do governador do estado, Cláudio Castro, pela tragédia. Ele lembrou, entretanto, que esse episódio se assemelha a muitos outros já ocorridos no estado.

“O que há de novo nesse massacre? Apenas a sua extensão, a quantidade de mortos… O que não há de novo é essa política de segurança pública, a destruição da vida do morador de comunidade. Quando ouvimos as respostas sobre a operação, ouvimos o que foi falado há 40, 50 anos atrás”, lamentou.

“As causas desse gravíssimo problema social já foram elucidadas, mas por que medidas tão óbvias não são implementadas? Porque falta vontade política. Porque quem morre são os moradores de comunidades e porque são eleitos homens que conseguem chegar aos mais altos postos com o discurso do “bandido bom é bandido morto”, completou o presidente da ONG Rio de Paz.

O governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro, tem defendido a megaoperação. Segundo ele, a ação foi planejada ao longo de seis meses, como resultado de mais de um ano de investigações, contou com o aval do Poder Judiciário e foi acompanhada pelo Ministério Público do estado.

Federação das favelas

Movimentos populares e de favelas também condenaram as ações policiais e afirmaram que “segurança não se faz com sangue”. A Federação das Associações de Favelas do Rio de Janeiro (Faferj) divulgou na quarta-feira (29/10) uma carta pública de repúdio contra o que foi chamado de “massacre dos Complexos da Penha e do Alemão”.

“Os relatos de horror que emergiram dessas comunidades – com cenas de guerra, execuções sumárias, violação de domicílios, impedimento de socorro a feridos e a total suspensão dos direitos mais básicos – não são incidentes isolados. São a face mais crua de uma política de segurança pública falida e genocida, que há décadas trata as favelas e seus moradores como territórios inimigos e cidadãos de segunda categoria”, diz o documento.

A Faferj também manifestou indignação por acreditar que a vida dos moradores das favelas está sendo tratada como “dano colateral em operações que, sob o pretexto de combater o crime, semeiam terror, luto e trauma coletivo.” Diz assim que a política de segurança atual apenas “aprofundou o abismo social, naturalizou a violência de Estado e perpetuou um ciclo de morte que só interessa ao projeto de extermínio da população pobre e negra deste país.”

Além das palavras de repúdio, o documento traz também reivindicações da organização, como a “desmilitarização das abordagens policiais nas favelas” e a construção de uma nova política de segurança pública pautada pelo cuidado e pela garantia de direitos.

Para a Federação, um “sistema que funcione” precisa contemplar também políticas de educação, com escolas em tempo integral, lazer, com a criação e manutenção de espaços de convivência e cultura. A Faferj reivindica ainda medidas de emprego e renda, como capacitação e criação de vagas formais, e de habitação, como saneamento básico, urbanização e regularização fundiária.

“Segurança se faz com presença do Estado, não com invasão. Com políticas sociais, não com políticas de morte. Com vida digna, não com luto permanente”, conclui o documento.

Fonte : Agência Brasil