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Inadimplência no ensino superior privado recua, mas ainda é uma das mais altas da economia, com 8,73%

Pesquisa de Inadimplência do Ensino Superior Privado do Instituto SEMESP - Sortimento.com.br Pesquisa de Inadimplência do Ensino Superior Privado do Instituto SEMESP - Sortimento.com.br

Inadimplência no ensino superior privado recua, mas ainda é uma das mais altas da economia, com 8,73%

Pesquisa do Instituto Semesp aponta queda de 1,9% na inadimplência no 1º semestre de 2025, puxada pelos cursos presenciais. Em contrapartida, o ensino a distância registra aumento de 8,4%, em meio a instabilidades e mudanças no marco regulatório

. Inadimplência no ensino superior privado . A 17ª edição da Pesquisa de Inadimplência do Ensino Superior Privado, realizada pelo Instituto Semesp, centro de inteligência analítica dedicado à produção de dados e estudos estatísticos sobre o ensino superior, em parceria com a Principia, revela que a taxa de inadimplência geral nas instituições de ensino superior (IES) privadas do país recuou 1,9% no 1º semestre de 2025 em relação ao mesmo período de 2024, ficando em 8,73%. A melhora foi puxada pelos cursos presenciais, cuja inadimplência caiu 3,1%, enquanto o ensino a distância (EAD) apresentou alta de 8,4%, reflexo do cenário de instabilidade da modalidade diante das mudanças decorrentes do novo marco regulatório.

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A pesquisa, realizada entre agosto e outubro de 2025, contou 293 instituições de ensino superior, que juntas representam 42,5% dos estudantes do país, analisando a inadimplência superior a 90 dias nas mensalidades de cursos de graduação, com recortes por porte das instituições e modalidade de ensino.

Variação da taxa no Brasil
Mesmo com a recente retração, a inadimplência no ensino superior ainda se mantém em níveis superiores aos de outros segmentos da economia. No crédito livre, por exemplo, a taxa alcançou 5,4%, após aumentos de 0,2 ponto percentual no mês e 1,0 ponto percentual nos últimos 12 meses. Esse cenário nas IES reflete as dificuldades financeiras das famílias e o aumento do comprometimento da renda.

O economista e diretor executivo do Semesp, Rodrigo Capelato, explicou que a inadimplência na educação superior é historicamente mais alta que em outros setores devido à Lei das Mensalidades, que obriga as instituições a manter o serviço educacional mesmo quando o aluno está inadimplente. Segundo ele, essa particularidade legal cria um ciclo de inadimplência que muitas vezes culmina na evasão. “A educação é o único setor em que o consumidor pode deixar de pagar e continuar recebendo o serviço, algo que não ocorre, por exemplo, com planos de saúde, que são suspensos por falta de pagamento, mesmo quando o paciente está em situações críticas”, afirmou Capelato. Para ele, “essa distorção incentiva o não pagamento, compromete a sustentabilidade das instituições e, ao contrário do que se imagina, também afeta a permanência dos estudantes. Isso porque, ao acumularem dívidas e perceberem que o valor devido se torna impagável, muitos acabam desistindo do curso, o que aumenta os índices de evasão”.

Taxa de inadimplência por porte das IES
De forma geral, no começo de 2025, a maioria das instituições respondentes (38,5%) registrou redução na inadimplência em cursos presenciais. Já nos cursos EAD, 37,5% das IES mantiveram suas taxas estáveis e 33,3% registraram crescimento.

Por porte, o estudo revelou diferenças expressivas entre as IES. No início de 2025, as instituições de médio porte registraram crescimento de 2,8% no volume de créditos não recebidos (atrasos superiores a 30 dias), enquanto as de pequeno e grande portes apresentaram reduções de 8,9% e 1,9%, respectivamente. Ainda assim, a inadimplência nas instituições de pequeno porte (até 3 mil alunos) permanece significativamente mais alta, atingindo 12,67%, frente a 8,64% nas de médio porte (3 mil a 10 mil alunos) e 8,49% nas grandes (acima de 10 mil alunos). Os dados indicam que as IES de menor porte continuam mais vulneráveis às oscilações financeiras e enfrentam maiores desafios na gestão da inadimplência. Para o diretor executivo do Semesp, “embora as pequenas apresentem os maiores índices, também foram as que registraram a maior redução percentual, o que pode estar associado à diminuição no número de alunos e ao avanço na profissionalização da cobrança”.

Cursos com maior concentração de alunos inadimplentes
Entre os cursos presenciais, Direito lidera a lista dos mais inadimplentes, até mesmo pelo volume de matrículas, seguido de Enfermagem e Engenharia. Já na EAD, Administração aparece em primeiro lugar, seguida por Gestão Comercial e Marketing. Rodrigo Capelato chamou atenção para o caso de Medicina, que agora aparece como o quarto curso mais inadimplente, o que representa uma mudança no perfil financeiro desses estudantes. “A judicialização dos processos de abertura de novos cursos e os incentivos para atrair novos alunos, com a oferta de bolsas, mudaram completamente a dinâmica da inadimplência em Medicina”, observou.

Principais motivos para o atraso no pagamento da mensalidade
As principais causas do atraso no pagamento das mensalidades permanecem ligadas às condições financeiras: perda de emprego ou redução de renda (62,8%); falta de planejamento financeiro (58,1%); aumento de despesas familiares (44,2%); problemas de saúde (32,6%); atraso no pagamento de salário ou ajuda familiar (30,2%) e outros financiamentos pessoais como carro, casa e moto (30,2%) são os motivos mais citados.

Impacto dos jogos online na inadimplência
O nível de preocupação das IES com o impacto dos jogos online (como apostas, bets) na vida financeira dos alunos atingiu o valor médio de 5,1 (em uma escala de 0 a 10, em que 0 é nada preocupante e 10 é muito preocupante). Além disso, 19,1% das IES já identificaram relação entre as apostas (jogos online) e a inadimplência. A maioria (71,4%) não investigou esse assunto.  “Vamos investigar novamente o impacto das apostas online (bets) na vida financeira dos estudantes. Nesta pesquisa, elas têm influência, mas representam cerca de 7% dos casos efetivos. O grande problema continua sendo o desemprego e a queda de renda”, ponderou Capelato.

Fonte : Roseli Ramos | Convergência Comunicação Estratégica