Endividamento por cartão de crédito chega a 77,7% em São Paulo, a maior taxa desde junho de 2012

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Endividamento por cartão de crédito chega a 77,7% em São Paulo, a maior taxa desde junho de 2012. Famílias endividadas chegam a 60,9% na cidade; inflação, queda na renda e medo do desemprego também diminuem confiança no consumo

Em meio à inflação dos alimentos e o impacto na renda – principalmente dos estratos sociais inferiores –, as famílias paulistanas estão recorrendo mais ao cartão de crédito para manter o consumo. É o que indicam os dados de março da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP): 77,7% dos lares têm alguma dívida com cartão, hoje, no município – o maior porcentual desde junho de 2012. O número é 4,5 pontos porcentuais acima do registrado em fevereiro (73,2%), que já era um recorde histórico.

Esta modalidade de dívida foi responsável pela manutenção do cenário de aumento do endividamento pelo quarto mês seguido, agora atingindo 60,9% das famílias paulistanas – alta de 1,7 ponto porcentual em relação a fevereiro. A inadimplência, por sua vez, parece mais controlada na cidade: subiu apenas 0,2 ponto porcentual, fechando março em 18,4% (era 18,2% em fevereiro e 18,7% em janeiro). O mesmo acontece com aqueles que declaram não ter condições de arcar com as dívidas – 8,4%, ante os 8,3% de fevereiro.

A pesquisa mostra, portanto, que 2,41 milhões de famílias estão endividadas na capital paulista. Dessas, 732,5 mil estão com as contas atrasadas.

Para a FecomercioSP, o aumento do endividamento pelo cartão de crédito se explica também pela postura de muitas instituições financeiras e bancos em restringir a oferta de crédito, temendo a inadimplência em meio ao recrudescimento da pandemia de covid-19. Com isso, o cartão se torna a única alternativa das famílias para ir às compras – mesmo as mais básicas.

No entanto, o indicativo mais expressivo da pesquisa, para a Entidade, tem a ver com a deterioração das condições econômicas das famílias paulistanas, resultado da ampliação das restrições de funcionamento de muitas atividades, bem como do isolamento social em meio ao auge da crise sanitária na cidade. Tudo isso em um contexto de inflação (só os alimentos subiram 10,92% em 2020, na região metropolitana de São Paulo), de queda na renda e do crescimento do desemprego.

Famílias estão mais inseguras com consumo

Esta deterioração também impacta nas perspectivas da família em consumir: o índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) na cidade de São Paulo caiu 1,1% em março, registrando 73 pontos. A queda interrompe uma sequência de seis meses em alta e se justifica, principalmente, pela postura das pessoas em evitar o consumo neste momento. Tanto é que as variáveis que mais caíram dentro do indicador foram as de Nível de Consumo Atual (-2,2%) e Perspectiva de Consumo (-2,4%), além da queda da Renda Atual (-2,2%).

Em comparação a março de 2020, quando a pandemia chegava ao Brasil, o ICF atual está muito abaixo: -31,2% em relação àquele mês, quando estava em 106,2 pontos.

O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) aferiu uma queda ainda mais brusca: -2,9% entre fevereiro e março, fechando este mês em 112,9 pontos. A retração foi puxada principalmente pelo desempenho da variável Condições Econômicas Atuais, que ficou em 69,9 pontos – um patamar 4,2% menor do que o de fevereiro. Na comparação com março de 2020, o resultado é ainda pior: -35,8%, já que, naquele mês, estava em 108,8 pontos.

São dados que descrevem o momento das famílias em São Paulo: apreensivos, os consumidores temem perder o emprego, não enxergam melhora possível no horizonte próximo e ainda encontram preços cada vez mais altos quando vão às compras mais básicas. Este cenário não deverá ser modificado enquanto o auxílio emergencial não chegar – a primeira parcela, de R$ 250, deve ser paga em abril –, e as medidas de restrição da abertura de estabelecimentos e do isolamento social não forem amenizadas.


Notas metodológicas

O Índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) é apurado mensalmente pela FecomercioSP desde janeiro de 2010, com dados de 2,2 mil consumidores no município de São Paulo. O ICF é composto por sete itens: Emprego Atual; Perspectiva Profissional; Renda Atual; Acesso ao Crédito; Nível de Consumo; Perspectiva de Consumo e Momento para Duráveis. O índice vai de zero a 200 pontos, no qual abaixo de 100 pontos é considerado insatisfatório, e acima de cem pontos, satisfatório. O objetivo da pesquisa é ser um indicador antecedente de vendas do comércio, tornando possível, a partir do ponto de vista dos consumidores e não por uso de modelos econométricos, ser uma ferramenta poderosa para o varejo, para os fabricantes, para as consultorias, assim como para as instituições financeiras.

O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) é apurado mensalmente pela FecomercioSP desde 1994. Os dados são coletados com aproximadamente 2,1 mil consumidores no município de São Paulo. O objetivo é identificar o sentimento dos consumidores levando em conta suas condições econômicas atuais e suas expectativas quanto à situação econômica futura. Esses dados são segmentados por nível de renda, sexo e idade. O ICC varia de zero (pessimismo total) a 200 (otimismo total). Sua composição, além do índice geral, se apresenta como: Índice das Condições Econômicas Atuais (ICEA) e Índice das Expectativas do Consumidor (IEC). Os dados da pesquisa servem como um balizador para decisões de investimento e para formação de estoques por parte dos varejistas, bem como para outros tipos de investimento das empresas.