Notícias enchente em Porto Alegre : quarta-feira, 8 de maio
Sortimento Notícias enchente em Porto Alegre – Sortimento Notícias da enchente no Rio Grande do Sul
Marchezan perdeu verba milionária destinada a sistema antienchente
Cinco anos antes da maior enchente da história de Porto Alegre, a prefeitura da capital, então governada pelo tucano Nelson Marchezan Júnior, perdeu 121,9 milhões de reais que seriam destinados a obras de prevenção a cheias do Guaíba e de outros cursos d’água que deságuam no lago. Esse financiamento, que viria do governo federal, seria destinado à reforma de 13 casas de bombas e também para dragagem do Arroio Moinho, que passa por comunidades periféricas da zona leste antes de desaguar no Dilúvio.
O contrato para liberação dos recursos havia sido assinado em 2012, ainda na gestão José Fortunati. Contudo, em 2019, já no fim da administração Marchezan, a Caixa Econômica Federal divulgou que os acordos com as empresas que conduziriam as obras foram rompidos porque a prefeitura perdeu prazos.
A população dos bairros Coronel Aparício Borges, São José e arredores é recorrentemente afetada pelas cheias do Arroio Moinho. Já na época do acordo, enxurradas do curso d’água causaram duas mortes, em 2017 e 2022. Só para essa obra seriam destinados 40,7 milhões do total do contrato.
Enchente em Porto Alegre
Abastecimento de água opera em quatro de seis estações da capital – Ontem foram retomadas as operações das Estações de Tratamento de Água (ETA) Menino Deus, São João e Tristeza, que atendem, ao todo, 82 bairros de Porto Alegre. Desde sábado, das seis estações, somente a ETA Belém Novo estava em funcionamento. O Dmae ressalta que o retorno das atividades será gradual e o processo de tratamento está mais lento para garantir a potabilidade da água. A retomada das operações na ETA Moinhos de Vento exigirá mais esforços, pois está alagada. A ETA Ilhas, com danos estruturais, segue desligada. Na mesma entrevista coletiva, no começo da tarde de terça-feira, o prefeito Sebastião Melo afirmou que a prefeitura ainda desconhece a dimensão dos estragos em cada uma das seis estações. A propósito: o Dmae informou que, mesmo turva, a água distribuída nas torneiras está própria para o consumo.
Em meio à nova crise, Léo Voigt deixa a Secretaria de Desenvolvimento Social – Abandonou o barco
Léo Voigt deixou a gestão de Sebastião Melo (MDB) em meio a uma crise sem precedentes em Porto Alegre. Em nota, a prefeitura afirmou que ele pediu exoneração nesta terça-feira do cargo de secretário municipal de Desenvolvimento Social. A pasta será assumida interinamente pelo adjunto Jorge Brasil. Não bastasse a capital ter sido invadida pela maior enchente da sua história, deixando milhares de desabrigados, menos de duas semanas atrás, em 26 de abril, uma pousada contratada pela prefeitura pegou fogo, matando 10 pessoas. O local faz parte da rede Garoa e recebia pessoas em vulnerabilidade encaminhadas pelo município. Voigt era um dos porta-vozes da prefeitura para o caso. Depois da tragédia, a Matinal revelou que denúncias sobre a precariedade das unidades de hospedagem já eram conhecidas da prefeitura. Em entrevista em 30 de abril, o então secretário negou que conhecesse as denúncias ou mesmo o processo que tramita no MP-RS contra a Garoa.
Prefeitura afirma ter investido em prevenção de enchentes, mas não cita valores
A prefeitura de Porto Alegre informou à tarde que 592 milhões de reais foram investidos em prevenção de cheias e alagamentos da cidade desde o início da gestão Sebastião Melo (MDB), em 2021. O executivo listou onde os montantes foram investidos, desde o novo sistema da Ponta do Arado à contratação de novos agentes da Defesa Civil. A manifestação ocorreu horas após um levantamento do portal UOL, feito a partir do Portal da Transparência de Porto Alegre, demonstrar que a verba destinada à prevenção foi diminuindo paulatinamente. Em 2021, a pasta contava com 1,7 milhão. No ano seguinte, a verba foi reduzida para menos de 10%, 141 mil. Em 2023, nenhum real foi aplicado. Responsável pela área, o Dmae tem em caixa 428,9 milhões de reais em “ativo circulante”, que podem ser convertidos em dinheiro e 31,1 milhões em superávit, segundo dados do balanço da autarquia em 2023. Nesta segunda, uma reportagem da Matinal mostrou uma redução pela metade do quadro de servidores do Dmae nas últimas duas gestões. No ano passado, o prefeito Sebastião Melo não assinou um pedido para contratar 443 novos servidores, cujas vagas já haviam sido autorizadas, desde 2022, pela Secretaria Municipal da Fazenda. Melo não se manifestou.
A crise climática na política do RS
Não faltaram alertas sobre as catástrofes que afetariam o RS, um dos epicentros da crise climática no Brasil. Em 2014, no governo da presidente Dilma Rousseff, o relatório “Brasil 2040: cenários e alternativas de adaptação à mudança do clima” mostrava que haveria um aumento das chuvas na região sul. O estudo foi ignorado. Sobre Porto Alegre, a pesquisa sugeria medidas de adaptação para além dos alertas precoces – entre elas estavam reformas nos diques da capital gaúcha. “Mas a adaptação viria antes, para o alerta sequer tocar”, afirma Natalie Unterstell, especialista envolvida no projeto, ouvida pelo Intercept Brasil. Quem esteve em meio ao caos em Porto Alegre nos últimos dias sabe que nem mesmo o alerta funcionou. Na segunda-feira, dia 6, o aviso para a evacuação nos bairros Menino Deus e Cidade Baixa chegou depois que a água do Guaíba começou a avançar.
Eduardo Leite flexibilizou leis ambientais através do autolicenciamento ambiental
Em nível estadual, o governador Eduardo Leite se tornou conhecido por ser o autor de propostas que flexibilizaram leis ambientais, como a implementação do autolicenciamento ambiental. Em 2020, o governador conseguiu a aprovação sem debates do PL 260, que libera em território nacional agrotóxicos proibidos nos seus países de origem, como mostrou a Matinal. Em 2021, alcançou a aprovação da PEC que entrega a gestão de parques estaduais à iniciativa privada. Neste ano, sancionou o PL que permite a exploração de Áreas de Preservação Permanente (APPs) sem vetos a despeito da nota técnica sobre os riscos enviada pela Fepam.
No final do ano passado, o tucano colocou um estudo financiado pela gigante de celulose CMPC para quadruplicar a área dedicada à silvicultura, deixando os ambientalistas de cabelo em pé. Com conselhos tomados pela iniciativa privada, o plano foi aprovado, e o plantio de monoculturas de espécies exóticas autorizado – pouco antes da enchente, a mesma CMPC anunciou investimento bilionário no estado. Deputados gaúchos no Congresso também atuam afrouxando leis que poderiam minimizar os efeitos de eventos extremos. No fim de março, a CCJ aprovou o substitutivo ao PL 364/19, de autoria de Alceu Moreira (MDB-RS) e Lucas Redecker (PSDB–RS), que retira a proteção ambiental da vegetação em áreas não florestais – o que pode deixar áreas nativas do Pampa 32% mais desprotegidas. Não é de hoje que, na Amazônia, os gaúchos são conhecidos como gafanhotos. Em algum momento a conta ia chegar.
Leite anuncia recursos e reforço de policiais de outros estados
O governador Eduardo Leite anunciou que o estado vai liberar 70 milhões de reais aos municípios atingidos pelas enchentes. O montante é uma primeira medida de apoio e vai injetar imediatamente cerca de 200 mil em cada cidade que decretou situação de emergência. O chefe do executivo anunciou também a liberação de 50 milhões para famílias em maior vulnerabilidade e 10 milhões para os hospitais atingidos e para os que fazem a retaguarda das áreas afetadas. Leite também disse que conversou com o Ministério da Justiça a respeito do envio de efetivos da Força Nacional ao RS. A segurança deve ser reforçada com a chegada de 400 policiais militares de outros estados – os primeiros 130 devem chegar amanhã. Além disso, Leite anunciou a abertura de um edital para a contratação de reservistas da Brigada Militar e a suspensão de férias e licenças dos policiais da ativa.
95 mortos
O número de vítimas das enchentes no estado subiu para 95 mortos conforme levantamento do Palácio Piratini. Outros quatro óbitos estão sendo investigadas. Ainda foram contabilizados 131 desaparecidos e 372 feridos por conta do evento climático. Dos 497 municípios, 401 foram afetados, atingindo 1,4 milhão de pessoas – das quais pouco mais de 207 mil tiveram de sair de suas casas. Passado uma semana do início das chuvas, há 451 mil pontos sem energia elétrica, 659 mil pessoas sem abastecimento de água. Além disso, há dezenas de pontos de rodovias, tanto na malha federal quanto na estadual, que estão bloqueados. Isso tudo em meio a um novo alerta climático no estado, detalhado pelo governador Eduardo Leite.
Municípios às margens da Lagoa dos Patos preparam-se para cheia histórica
Assim como Porto Alegre e região metropolitana, a inundação deve ultrapassar o nível histórico de 1941 em cidades banhadas pela Lagoa dos Patos. Em São Lourenço do Sul, o primeiro município do sul do estado às margens da Lagoa, a água havia subido 2,3m. Além da orla, locais como a rua Santo Abreu, Largo da Cruz e o bairro Balneário foram alagados. Até o fim da tarde, a cidade registrava 106 desabrigados – segundo o prefeito Rudinei Harter, mais de 270 famílias deixaram suas casas depois dos primeiros alertas, número que pode ter dobrado. Em Rio Grande, pelo menos 229 pessoas estão fora de casa. Na medida em que a água sobe, o Hospital Público da cidade já registra alterações no funcionamento. Outros locais, como postos de saúde, suspenderam os atendimentos na terça-feira, enquanto as equipes foram para abrigos atender resgatados. Durante a tarde de ontem, o nível da água estava em 1,36m, equivalente a 56 centímetros acima do nível normal. O alerta para Pelotas não é diferente: no início da semana, a partir da leitura no Canal São Gonçalo, o nível chegou aos 2,22m. Ao todo, mais de 100 famílias já foram retiradas de casa. Ontem, o Inmet voltou a emitir novos alertas de tempestade para o sul do estado – o mais grave deles vale até as 10h desta quarta-feira justamente para áreas que abrangem municípios como Pelotas e Rio Grande.
Giro de Notícias
O Centro Estadual de Vigilância em Saúde elaborou um guia básico para riscos e cuidados com a saúde após enchentes. A prefeitura alerta a população e profissionais de saúde para os sintomas da leptospirose.
Aliás, ontem surgiu mais uma razão para fugir de áreas inundadas (e evitar o “turismo de desastre”): tem um jacaré de pequeno porte rondando as ruas alagadas de Porto Alegre. O réptil foi encontrado no bairro Menino Deus.
A prefeitura de Porto Alegre abriu cadastro para veterinários voluntários, dispostos a atender animais resgatados. Acesse o formulário.
As aulas da rede municipal permanecerão suspensas até a sexta-feira, dia 10. Algumas escolas têm atuado como alojamento provisório em áreas atingidas pelas enchentes.
Eventos em espaços públicos de Porto Alegre estão suspensos por 15 dias. O decreto foi publicado na segunda-feira pela prefeitura da capital.
O 18º Palco Giratório Sesc Porto Alegre, considerado um dos maiores festivais do RS, também foi cancelado devido às inundações no estado. O evento aconteceria entre os dias 14 e 29 de maio.
A PEC da Calamidade, proposta pela deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL), já conta com 62 assinaturas de parlamentares de diferentes partidos. A partir da PEC, a União poderia adotar um regime extraordinário fiscal, financeiro e de contratações para auxiliar o RS frente à crise.
O MPRS disponibilizou um canal para receber reclamações de estabelecimentos que estejam aumentando os preços de forma abusiva. É possível realizar denúncias pelo e-mail: precoabusivo@mprs.mp.br. A recomendação é que sejam enviadas informações detalhadas sobre os lugares mencionados.