Notícias enchente no Rio Grande do Sul : culpa é da chuva, Trensurb, leptospirose, Alvarez & Marsal e limpeza da Capital gaúcha
No dia seguinte às denúncias de que o DMAE havia informado a prefeitura sobre falhas no sistema anticheias meses antes da atual enchente, o prefeito Sebastião Melo culpou o volume de chuva pela inundação que tirou milhares de pessoas de casa em Porto Alegre. Sem admitir falhas na manutenção das proteções, ele insistiu que os mecanismos devem ser revisados e ainda reduziu a importância das casas de bombas no escoamento da água.
A newsletter da Matinal também destaca a entrevista com o vice-diretor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS, André Cunha, que critica o acordo da prefeitura com a Alvarez & Marsal. De olho em outras consequências da enchente, traz o possível aumento dos casos de leptospirose na capital gaúcha e da falta de previsão para a retomada do Trensurb na área central de Porto Alegre – onde a liberação de acesso ao corredor humanitário gerou enormes engarrafamentos na terça-feira (21/5)
E passados (longos) 20 dias, o nível do Guaíba baixou dos 4m pela primeira vez desde o dia 3 de maio. Na quarta-feira pela manhã, chegou a 3,92m.
Sortimento Notícias enchente em Porto Alegre – Sortimento Notícias da enchente no Rio Grande do Sul
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Melo culpa chuva e não admite falhas na manutenção do sistema anticheias
O prefeito Sebastião Melo (MDB) classificou como “narrativa mentirosa” as denúncias reveladas pelo deputado Matheus Gomes (PSOL). Documentos do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) mostram que a prefeitura foi comunicada sobre problemas em quatro estações de bombeamento de águas pluviais (EBAPs) após a cheia de novembro de 2023. Gomes irá encaminhar o material ao Ministério Público nesta quarta-feira.
Em entrevista coletiva realizada na terça-feira, antes mesmo de ser questionado, Melo abriu a apresentação citando o caso, mas sem mencionar o nome do parlamentar. “Nos últimos dias, pessoas de esquerda e extrema esquerda tentam montar uma narrativa mentirosa sobre a questão das enchentes em Porto Alegre. Essas pessoas governaram a cidade por 16 anos”, disse, em referência aos quatro mandatos consecutivos do PT em Porto Alegre – que tiveram fim há 20 anos. Na sequência, afirmou: “Mas eu não vou politizar esse debate”.
Melo culpou mais uma vez a concepção do projeto e defendeu que ele deve ser revisitado. Ainda no início das enchentes, três especialistas ouvidos pela Matinal apontaram a falha de manutenção como catalisadora da inundação da capital. O prefeito ainda minimizou o papel das casas de bombas, destacando o volume de chuva que caiu sobre a capital desde o início da crise.
Acordo com Alvarez & Marsal indica que prefeitura é incapaz de lidar com a atual crise, aponta professor da UFRGS – Em entrevista à Matinal, o vice-diretor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS, André Cunha, critica escolha da gestão de Sebastião Melo, que no dia 13 de maio anunciou acordo com a Alvarez & Marsal, empresa conhecida por gerir companhias “que estão com graves problemas e não conseguem se reerguer por conta própria”. A consultoria atuou nos episódios do furacão Katrina, em Nova Orleans (EUA), em 2005, em Brumadinho (MG), em 2019, e, mais recentemente, na recuperação judicial da Americanas. Para o professor, a consultoria não tem competências para planejar uma cidade com maior resiliência climática.
Casos suspeitos de leptospirose crescem em Porto Alegre
A baixa do Guaíba vai revelando um problema sanitário prenunciado: casos de doenças provocadas pelo contato com as águas e a lama das enchentes. Até segunda-feira (20), havia 268 casos suspeitos de leptospirose em Porto Alegre, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. O volume de situações em investigação em menos de seis meses equivale a praticamente o total de casos suspeitos registrados no ano passado na capital: 270, dos quais 68 foram confirmados. Não houve óbitos relacionados à doença em 2023. A orientação da SMS é que quem apresenta febre, dor de cabeça e dores no corpo, em especial nas panturrilhas, alguns dias após o contato com água de enchente ou esgoto, deve procurar imediatamente o serviço de saúde. Leia mais na Matinal.
Trensurb não tem previsão de retomada na capital
Preparando-se para retomar uma operação emergencial entre Canoas e Novo Hamburgo nos próximos dias, a Trensurb não tem sequer previsão de quando os seus trens poderão voltar a trafegar entre as estações Farrapos e Mercado, em Porto Alegre. Em entrevista à Rádio ABC 103.3 FM, o presidente da empresa, Fernando Marroni, afirmou que “a perda é total nas estações e inclusive na via férrea” do trecho localizado na capital. Segundo Marroni, o governo federal liberou 168 milhões de reais para reparos. A Trensurb transporta em média 200 mil passageiros em dias úteis.
Caos no trânsito
Na terça-feira foi liberado um novo acesso a Porto Alegre, que não terá restrições de horário e está disponível a todos os tipos de veículos, ainda que seja preferencial para viaturas que atuem na emergência. À tarde, após a retomada do acesso à área central da cidade, um enorme engarrafamento se formou em vias que levam ou saem do Túnel da Conceição e adjacências.
Limpeza da cidade
À medida que o Guaíba recua em Porto Alegre, avançam os esforços de limpeza da cidade. Para ajudar na tarefa, a Faculdade de Arquitetura da UFRGS desenvolveu um modelo de rodo especificamente criado para a remoção de grandes quantidades de lama – que precisa ser retirada ainda úmida. Professores e alunos voluntários integram a iniciativa, que já chegou a produzir 800 utensílios em apenas um dia. O protótipo, fabricado com o auxílio de IdeaPucrs, Tecnopuc Fablab e Fablab Unisinos, prioriza uma montagem simples e rápida para atender demandas de emergência. Para seguir em andamento, o projeto depende de doações, que podem ser feitas por meio do pix arqsecretaria@ufrgs.br.
Giro de Notícias
Sugestões de Sebastião Melo : cidade está alagando, vá para o litoral norte. Agora, com grande parte da população da Capital gaúcha impactada pela enchente, diz que paga passagem de ônibus intermunicipal para quem deseja ir embora. Realmente, a estratégia é ‘desovar’ o problema transferindo para outros municípios.
Representação do Ministério Público pede que o TCU analise mudanças feitas na legislação ambiental do RS durante o governo de Eduardo Leite para apurar se as alterações impulsionaram a crise climática no estado.
A Assembleia Legislativa aprovou projeto do executivo, inspirado em proposta da bancada do PT, que institui o Plano Rio Grande e o fundo Funrigs.
Mesmo com o recuo das inundações, 21 unidades de saúde seguem fechadas em Porto Alegre, 14 delas diretamente afetadas pela enchente.
Companhias aéreas pretendem oferecer 19 voos semanais na Base Aérea de Canoas. A Latam deve começar as operações a partir de 27 de maio, a Azul prevê início das atividades em 1º de junho. O ParkShopping Canoas será o ponto de embarque e desembarque, informou a Fraport.
O prefeito Sebastião Melo anunciou medidas para habitação e economia – parte delas dependente de votação na Câmara de Vereadores
A prefeitura oferece transporte gratuito para pessoas acolhidas nos abrigos da capital que queiram se deslocar para cidades do interior do estado.
Com 2,4 mil toneladas de descartes da população até a noite de segunda-feira, Porto Alegre vai adquirir um aterro sanitário emergencial em terreno próximo à capital ainda não divulgado.
O posto de expedição de passaportes localizado no Praia de Belas Shopping foi reaberto pela Polícia Federal, mas devido a dificuldades logísticas o prazo de entrega do documento no RS pode levar até 15 dias.
Levantamento da Funai e do Ministério dos Povos Indígenas aponta que 70% dos territórios indígenas no RS foram atingidos pelas chuvas.
Inicialmente prevista para setembro, a 14ª Bienal do Mercosul foi adiada e ainda não tem nova data.
Já o Porto Alegre em Cena anunciou que a próxima edição do festival – também sem data definida – terá programação formada exclusivamente por artistas gaúchos.
Durante o lançamento da ação “Jogando Junto Pela Reconstrução do Rio Grande do Sul”, o presidente do Grêmio, Alberto Guerra, ressalta a importância da união entre os eternos rivais Grêmio e Internacional para a reconstrução do Estado
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Sortimento – Políticos contra o meio ambiente
Prefeitura de Porto Alegre, gestão Sebastião Melo (MDB ) liberou construções na Orla do Guaíba e no Parque Harmonia que interferiram no meio ambiente com retirada de árvores e uso de área com objetivo de aumentar receita através de concessões.
É um combo dos gestores públicos com a conivência dos vereadores da base aliada ao Paço com o desleixo das casas de bombas, com a falta de manutenção do sistema de proteção da cidade e o sucateamento do DMAE
Tanto o município e o Estado do Rio Grande do Sul, através da gestão de Eduardo Leite e base governista na Assembleia Legislativa desconsideram o meio ambiente inclusive aprovando Projeto de Lei que revogada 480 normas de proteção ambiental.
Não é só uma catástrofe climática. É uma catástrofe de gestão pública do executivo e legislativo que desconsiderou avisos, a ciência e os estudos ambientais em prol de governança voltada para atender os desejos, necessidades, interesses e ganância de grupos.