Sortimento Finanças : déficit público e nas transações correntes em 2021

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Sortimento Finanças

Déficit público e nas transações correntes em 2021

Transações correntes têm déficit de 1,75% do PIB em 2021

Resultado do déficit de US$ 5,89 bilhões no mês de dezembro/21 é melhor que a projeção de saldo negativo de US$ 6,8 bilhões do Banco Central para o mês. No ano, o déficit em transações correntes ficou em US$28 bilhões (1,75% do PIB), uma estabilidade em relação a 2020, na medida em que a melhora da balança comercial e o crescimento do PIB foram compensados por uma elevação das remessas de renda.

A balança comercial fechou o ano registrando superávit de US$ 36,2 bilhões. O número é acima de US$ 32,4 bilhões em 2020, e traz crescimento de 34,7% para exportações e de 38,9% para importações. A balança de serviços totalizou remessa de US$ 17,6 bilhões no ano, abaixo do nível pré-pandemia. O desempenho do setor de serviços reflete a dificuldade de normalização dos fluxos de viagens, que deve continuar depreciado com o avanço da variante Ômicron no mundo e a desvalorização do real que acumula 34% desde o início de 2020.

No mês de dezembro/2021, a remessa de dividendos alcançou cerca de US$ 2,0 bilhões em dividendos líquidos no mês, muito superior à US$ 629,4 milhões no mesmo mês de 2019, fato que já coloca a balança de renda primária mais próxima do nível pré-pandemia.

Já o Investimento Direto no País (IDP) tem forte queda em dezembro e fecha o ano em 2,89% do PIB. Em dezembro, o IDP foi negativo em US$ 3,94 bilhões, surpreendendo a expectativa do Banco Central de saldo positivo de US$ 3,0 bilhões. Com isso, os ingressos de capital estrangeiro de longo prazo somaram US$ 46,4 bilhões em 2021, crescendo 22,9% em relação a 2020, ante um aumento da ordem de 77,0% do investimento global, de acordo com a UNCTAD. O IDP ainda é inferior à média de 3,7% do PIB entre 2017 e 2019. O dado anual também frustrou a projeção da autoridade monetária, constante do último Relatório Trimestral de Inflação, de US$ 52,0 bilhões para o ano. Ainda que alguns fatores conjunturais, como juros altos e valuations deprimidos, possam contribuir para atrair capital estrangeiro e apreciar o câmbio no curto prazo, a retomada do IDP para a média dos últimos anos é fundamental para possibilitar o crescimento de longo prazo no país.

Perspectivas para 2022

Conforme divulgado recentemente pelo Ministério da Economia, a balança comercial deve ter superávit mais expressivo em 2022 através do diferencial positivo decrescimento entre o mundo e o Brasil, do câmbio real efetivo depreciado e da expectativa de bom desempenho do setor agropecuário. Será que novamente o setor vai garantir o PIB, após seca na Região Sul afetando plantio de grãos e inundações / enchentes em outros Estados. Para sortimentos.com, o ambiente agropecuário será afetado com a diminuição da colheita e produção, aumento de custos, aumento de preço, perda da competitividade e qualidade e até da diminuição das exportações e do consumo no país. Os fluxos de viagens, com o controle da pandemia, deve possibilitar um déficit final em transações correntes próximo de 1,0% do PIB, afastando potenciais problemas de financiamento externo.

No âmbito da conta financeira, o diferencial de juros elevado e o patamar de preço dos ativos deve
permitir o ingresso de investimento em carteira. Esse fluxo pode, ainda, ser potencializado a
depender do posicionamento público dos principais candidatos às eleições no final do ano. Para o
investimento direto, no entanto, faz-se necessário a tomada de medidas mais estruturais para recompor
o fluxo observado na média da última década. A médio prazo, a evolução da pauta de privatizações e
concessões, caso ocorra, será um driver importante para esse indicador, especialmente com a esperada
tendência de queda para o investimento público. A longo prazo, o potencial cumprimento dos
requerimentos de ingresso na OCDE pode alinhar o Brasil às melhores práticas econômicas mundiais,
retomando a credibilidade internacional do país e possibilitando o aumento sustentado do fluxo de
investimentos estrangeiros.

Déficit Público

Variáveis como as receitas e despesas primárias, os gastos com juros e a dívida do governo parecem influenciar de forma significativa o desempenho dos mercados. O setor público, composto pela União, Banco Central, governos regionais e algumas estatais, possui participação relevante na economia de todos os países. Em particular, esse ente possui tanto a capacidade de tributar pessoas e empresas quanto de emitir a moeda que possui curso legal. Caso o setor público de uma nação apresente problemas de solvência, se valerá do controle sobre impostos e sobre a política monetária para cumprir suas obrigações, gerando distorções para a economia, como queda da atividade econômica e inflação. Por outro lado, um governo com finanças equilibradas possibilitará investimentos em infraestrutura, educação e saúde, por exemplo, o que contribui para a prosperidade do país.

Na medida em que afeta a expectativa para as variáveis econômicas, em especial a taxa de juros, o déficit público também impacta os preços dos ativos no mercado financeiro. Um país que equilibra seu orçamento passa a captar dinheiro mais barato no mercado, possibilitando uma queda dos juros e
valorização dos instrumentos de renda fixa e renda variável.

Variáveis fiscais e a solvência do governo

A variável chave para avaliar o estado das contas de um governo é a razão entre sua dívida e o PIB.
Para entender a evolução desse indicador, no entanto, é preciso dar um passo atrás. Em primeiro lugar, é necessário assimilar a dinâmica do déficit primário, definido como a diferença das receitas para as despesas primárias (ou seja, que excluem o pagamento de juros da dívida). As receitas do governo provêm de impostos e de outras fontes, como dividendos de estatais e royalties da exploração de recursos naturais. Tipicamente, essa variável depende do ritmo de crescimento da atividade econômica, da taxa de câmbio e do comércio internacional, variáveis que escapam ao controle direto do setor público. Por outro lado, o governo possui maior gerência sobre suas despesas: embora alguns gastos importantes, como os benefícios previdenciários e assistenciais, sejam mais rígidos, outras linhas são passíveis de ajustes, como os investimentos. Em conjunto, as receitas e despesas, limitadas por regras fiscais, como o “Teto de Gastos” e a “Regra de Ouro”, determinam o déficit primário do governo.

Outro gasto importante, que historicamente atinge proporções elevadas, é o pagamento de juros. Dado que o governo frequentemente incorre em déficits primários, a necessidade de recursos é suprida com a tomada de empréstimos. Os encargos dessa dívida variam com a percepção do mercado acerca da situação fiscal do país, portanto governos mais pródigos tipicamente pagam uma taxa de juros mais elevada para captar recursos.

Somando o déficit primário ao gasto com juros, chega-se ao déficit nominal, que possui impacto direto no endividamento do setor público. Outra variável importante é o PIB do país, que aparece no denominador das métricas fiscais e explica por que períodos de crescimento da atividade econômica permitem uma melhora direta dos diversos indicadores. Dessa forma, é possível concluir que a estabilidade da dívida requer que haja ou crescimento do PIB ou geração de superávits primários que compense o pagamento de juros, garantindo uma tendência favorável para as contas públicas e permitindo uma evolução positiva da conjuntura econômica e dos preços dos ativos em determinado país.


  • * publicação produzida através de informações Inter Research do Banco Inter